A Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO) promoveu sábado passado – segundo dia do 10º FestOrquídeas de Fortaleza – um rico debate inspirado no tema “Orquídeas do Nordeste, um patrimônio ameaçado”. A mesa redonda, mediada pelo Prof. Italo Gurgel, contou com a presença do ambientalista Roberto Otoch, da Fundação Mata Atlântica Cearense; Marcelo Carvalho, diretor técnico da ACEO, estudioso da Botânica e ativista ambiental; Hugo Leite de Albuquerque, diretor técnico da Associação Paraibana de Orquidófilos; Karime Soares, da Associação Orquidófila de Pernambuco; e Luiz Wilson Lima Verde, do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará, grande estudioso das orquídeas cearenses.
Os debatedores se detiveram em diferentes aspectos relacionados ao tema do encontro, a partir de exposição feita, no início, por Roberto Otoch. Referência nacional em Ornitologia, respeitado pela veemente defesa que faz do que resta dos nossos ecossistemas naturais, Otoch deu início a sua explanação mostrando a rota de dispersão da espécie Cattleya labiata pelo Nordeste brasileiro. Em seguida, alertou para os riscos que correm esta e todas as demais orquidáceas – assim como outros tesouros da flora e da fauna cearenses – por conta das agressões perpetradas pelo homem contra a natureza e, igualmente, em razão da inércia dos órgãos públicos criados para defendê-la.
Segundo Otoch, com a progressiva e rápida destruição da cobertura vegetal, logo não haverá condições para que muitas espécies sobrevivam e se reproduzam. O pesquisador apelou para um esforço conjunto de todos os que se empenham, verdadeiramente, para salvar nossos ambientes naturais, a fim de que o formidável patrimônio que herdamos das gerações passadas não desapareça sob os nossos olhos.
Sempre com grande participação do auditório, seguiram-se os depoimentos dos demais participantes da mesa. Marcelo Carvalho, que tem contribuído para agregar novas espécie à lista de orquidáceas cearenses, reforçou o alerta para o perigo que correm essas plantas, em ambientes totalmente desprotegidos. Hugo Albuquerque relatou um quadro semelhante na Paraíba, onde se reproduz o mesmo fenômeno de destruição de matas e restingas. Karime Soares lamentou que persista, em Pernambuco, o comércio ilegal de orquídeas e falou dos esforços desenvolvidos por sua Associação para frustrar a atividade dos “mateiros”. Lima Verde referiu-se ao fato de que as agressões às orquidáceas cearenses são uma prática que vem de longa data, o que conduziu à situação atual, em que a Cattleya labiata praticamente desapareceu dos ambientes que habitava no passado.