Italo Gurgel (Jornalista e Presidente da ACEO)
Algumas exposições de orquídeas costumam ser mais do que exposições de orquídeas. Explicitamente ou nas entrelinhas, elas repassam mensagens que o público absorve, na medida em que se deleita com as cores e perfumes das flores, com sua magia e mania de fascinar. Aqui, alerta-se para a necessidade de proteção dos ambientes naturais; ali, as orquídeas se apresentam como saudável terapia, carreando benefícios para a mente e o corpo, promovendo o encontro de pessoas, ampliando as teias de amizades.
Hoje, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, se abre o 3º FestOrquídeas, exposição de flores cultivadas – quase todas elas – em Fortaleza e cercanias. Vocacionado para derrubar tabus, o evento pulveriza a ideia de que orquídea somente floresce em clima frio ou temperado. Ledo engano! As orquidáceas são rústicas, fáceis de cultivar, e a maioria se adapta, sem traumas, a novos ambientes.
O FestOrquídeas desmente, ao mesmo tempo, que orquidofilia é diletantismo de gente abonada. A Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO), reunindo quase 100 cultivadores, é ponto de encontro de heterogênea tribo, que inclui estudantes e profissionais liberais, donas de casa e jardineiros, funcionários públicos e empresários, crianças e aposentados de todos os níveis sociais (detalhe que, aliás, não tem qualquer relevância no grupo).
Este ano, o FestOrquídeas programou uma ação inclusiva. Na entrada da exposição, uma grande bancada vai expor, didaticamente, elementos da orquidofilia acompanhados de textos em braile. O objetivo evidente é comunicar-se com os deficientes visuais, que poderão tocar as plantas, sentir a textura das flores e seu perfume. Vai-se demonstrar que, para apreciar orquídeas, não existem barreiras. Basta ter sensibilidade. Sensibilidade que falta, por exemplo, aos que devastam nossas matas e outros ricos ambientes naturais, onde espécies vegetais estão desaparecendo sem mesmo deixar rastros na literatura botânica. Estes, sim, é que são carentes de visão.
(Artigo publicado pelo jornal “O Povo”, de Fortaleza, edição de 13.11.2009)