Plantas se aninham num carro de boi e em velho tronco de árvore.
Acianthera pectinata alba e Carinidium dasystyle.
Cattleya labiata e Anacheilium cochleatum.
Maria Rita Cabral: médica, mãe, avó, orquidófila. Apaixonada pelas micro-orquídeas, nesta conversa com a vice-presidente da ACEO, Vera Coelho, ela conta como se divide entre os compromissos familiares e as flores, que cultiva, principalmente, em árvores e em velhos troncos que encontra à margem das estradas. Conhecida no mundo orquidófilo como “a mãe leoa”, Rita mora no Rio de Janeiro e cultiva suas orquídeas em Paty do Alferes, na região serrana.
ACEO – Fale-nos, de início, sobre a Maria Rita mãe, avó, esposa, mulher.
Maria Rita Cabral – Formei-me em Medicina, cliniquei por pouco tempo, depois da pós-graduação. Então, com três filhos adolescentes e um na barriga, vi o marido ser transferido para São Paulo, com a indicação de depois ir para o exterior. Optei por abandonar a Medicina e criar meus filhos com carinho, ajudando o marido. Não me arrependi e tampouco fiquei falando só em vassouras e fogão (adoro cozinhar, nada contra a vida doméstica). Envolvi-me com a administração financeira de meu marido e meu sogro, cuidando dos negócios até o dia de hoje (o sogro faleceu). Quando o caçula temporão estava maiorzinho, ganhamos uma neta para criar. E começamos tudo de novo. Minha vida é uma grande alegria, com os quatro filhos, quatro noras e sete netos, junto com o marido. Gosto de estar presente em todos os bons e maus momentos de todos e meu marido diz que eles têm em mim, além da mãe e avó, uma “central de serviços”. Há cinco anos resolvi me dedicar a um estudo e, loucamente, optei pela orquidofilia. Adquiri literatura, até mais cedo que a maioria das orquídeas, fui lendo, fui entrando nas listas, aprendendo, fazendo amizades e estamos aí, orquilouca.
ACEO – Tive oportunidade de conhecer seu cultivo, todo ao ar livre. Algum motivo especial, ou simplesmente não gosta de trancá-as em estufa?
MRC – Quando iniciei o cultivo, coloquei logo uma carrocinha com uns vasos. Fui aumentando e o marido só dizia: “nada de estufa”. Fui estudando, vendo como poderia fazer meu orquidário sem deixá-lo triste, e fui colocando nas árvores. Estas se davam muito melhor. Fui tendo contato com a obra de Érico de Freitas Machado, com sua Florabela, e decidi cultivar em árvores e sob elas. Comprei carros de boi, fiz ripados sob as árvores e aí namorei um tronco (raíz de árvore centenária) que estava numa estrada, em meu caminho. Um dia, não resisti e pedi para comprar. O dono disse: “pague o carreto que eu levo, não lhe cobro nada”. Enchi de orquídeas e fui comprando todos os troncos grandes e bonitos que acho jogados pelos campos de minha região, e colocando as orquídeas. Hoje tenho 15 troncos enormes, oito árvores (duas nespereiras, uma amoreira, uma mangueira, um caquizeiro, um limoeiro, um manacá, uma camélia e outros arbustos). Por vezes, subo na escada para fotografar. Integrei as orquídeas ao paisagismo imaginado por meu marido. Tenho também três pequenos telados, um na saída da casa, um numa parreira velha e outro ao lado da palmeira na entrada. Neles tenho prateleiras em aramado com esquadria de madeira.
ACEO – Sei que cultiva várias espécies, mas as micros têm sua predileção. Qual a maneira adequada de cultivá-las?
MRC – A grande maioria está nos troncos das árvores (nespereiras, principalmente) e nos limoeiros, manacá e camélia. Os galhos finos ajudam muito. O que tenho em vaso, tento colocar sobre um prato grande de plástico, furado, com areia e pedrinhas. Aí mantenho a umidade. Pequenos toquinhos, pedaços de corticeira, pequenas sapucaias também podem ser lugar para elas. Tento manter bromélias ao redor e molho muito o gramado, para a umidade ficar perfeita. Paty, onde estão minhas orquídeas, tem sereno quase o ano todo. A diferença de temperatura entre o dia e a noite também ajuda muito as micros e todas as outras. Num verão chuvoso como este, só aquelas que estão em vaso e cachepot sofrem. O que está em árvore e troncos não reclama.
ACEO – Dentre tantas plantas, existe alguma especial? Por quê?
MRC – Acho que tenho uma predileção por Maxillariinae (elas entouceiram muito e são muito floríferas) e pela Acianthera pectinata alba. Aquela folha enorme, bonita, com uma concavidade incrível, me encanta. Também pelas miudinhas que me obrigam a trocar de óculos e, por vezes, até usar uma lupa para poder observá-las, me enlouquecem. Ver a palmeira cheia de Cattleya labiata, também me alegra. Acho que gosto de tudo. Não estou mais cultivando híbridos, a não ser os que recebo de presente e alguns que adquiri do Jorge Luiz, do Itaorchids.