A engenheira florestal Lou Menezes, estudiosa das orquídeas brasileiras – as quais já descreveu em livros que circulam no mundo inteiro – deu entrevista exclusiva ao “Boletim ACEO”, falando do seu trabalho, da importância das orquidáceas em nosso país, do papel das associações orquidófilas e de outros temas que interessam a todos os que estão, de uma forma ou de outra, envolvidos com as orquídeas. Segue-se a transcrição da conversa:
ACEO – Você está com algum novo livro em preparação?
Lou Menezes – Estou compilando um livro sobre a Cattleya nobilior, para ser publicado no primeiro semestre de 2014. Após meu recente livro sobre a Cattleya walkeriana, não poderia deixar de pesquisar a sua irmã gêmea, ou seja, a nobilior.
ACEO – Como você avalia a importância da flora de orquídeas do Brasil?
LM – A importância da flora brasileira de orquídeas extrapola a compreensão do comum. Envolve a preservação dos habitats, especialmente o nicho ecológico das orquídeas, seus polinizadores, os usos industrial e medicinal, além da obtenção dos “royalties” para o País. Este último pobremente explorado, uma perda enorme, se comparado aos “royalties” obtidos pelos países asiáticos grandes produtores de orquídeas.
ACEO – Esse patrimônio corre riscos?
LM – O patrimônio está sempre correndo riscos e perdas irreparáveis, visto que a preservação é feita em progressão aritimética, enquanto a depredação ocorre em progressão geométrica, por fatores diversos e muito bem conhecidos dos amantes das orquídeas.
ACEO – A Instrução Normativa nº 11 é um instrumento adequado para proteger nossas orquídeas e outros tesouros da flora brasileira?
LM – A Instrução Normativa nº 11 é adequada para proteger nossas riquezas florestais, embora haja necessidade de ajustes, no sentido de proteger os aficcionados de certos rigores de controle mal compreendidos ou analisados por aqueles que ignoraram consultar a comunidade orquidófila e os produtores de orquídeas.
ACEO – O que as associações orquidófilas podem fazer para ajudar na preservação da nossa flora?
LM – É de fundamental importância que as comunidades orquidófilas implantem programas de educação ambiental para orientar as ações de seus associados, alertando-os para a urgência na formação de uma conscientização ambiental que proteja, dos predadores, os habitats e as populações de orquídeas.
ACEO – O que a levou a pesquisar sobre a Cattleya labiata?
LM – Primeiramente, as minhas raízes nordestinas. Nascida em São Luis do Maranhão, outrora a Atenas brasileira e, hoje, apenas brasileira, fui atraída pela Cattleya labiata, cantada em prosa e verso como a Rainha das Cattleyas ou mesmo a Rainha das Orquídeas do Brasil.
ACEO – Qual é, de fato, o território dessa Cattleya?
LM – Pude constatar, nas minhas viagens de pesquisa, que os habitats de Cattleya labiata encontram-se nos Estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará. Possivelmente, a espécie poderá ser encontrada ao longo do complexo montanhoso que separa os Estados do Ceará e Piauí, o que desmistificaria a existência da Cattleya labiata neste último Estado.
ACEO – O que diferencia a C. labiata da C. jenmanii e da C. warneri?
LM – Levando-se em consideração o ponto de vista estritamente botânico, as Cattleyas warneri e jenmanii são meras raças geográficas ou variedades ecológicas da Cattleya labiata.
ACEO – Alba, amesiana, amoena, amethystina, atropurpurea, caerulea, caerulescens, concolor, purpureo-lineata, purpureo-striata, rosada, rubra, semialba, venosa, labelloide, pelórica – essa classificação cobre a riqueza de coloridos e formas da Cattleya labiata?
LM – A nomenclatura apresentada em meus dois livros sobre a labiata, ou seja, suas variedades horticulturais, estão perfeitamente de acordo com as conhecidas variedades morfocromáticas de suas flores. Muito recentemente, algumas raras plantas encontradas em habitats de Pernambuco, cujas flores exibem um colorido próximo da tonalidade vinho, poderiam atender aos anseios dos amantes da espécie, criando-se, então, a variedade horticultural vinicolor, um assunto que deverá ser tratado em um próximo trabalho que estou elaborando. A ideia estapafúrdia de estabelecer uma nomenclatura similar para a labiata e a purpurata entraria em choque com tradições culturais entre Nordeste e Sul, mas também iria contrariar as variedades legalmente descritas e registradas na literatura pertinente do passado. Tais variedades não podem ser ignoradas nem tampouco alteradas de acordo com as regras de nomenclatura botânica. Um simples e contundente exemplo dessa situação diz respeito às flores branco puro, que na Cattleya labiata representam a variedade alba e, na purpurata, a variedade virginalis.
ACEO – Fale do Orquidário do IBAMA. O que o visitante vai encontrar ali?
LM – O Orquidário Nacional do IBAMA é uma estrutura que abriga o acervo de plantas do projeto Orquídeas do Brasil. Fundamentalmente criado com o objetivo de pesquisar a rica flora brasileira de orquídeas, está também aberto à visitação pública, encantando muitas vezes os incautos, pelas plantas raras em florações espetaculares, como foi o caso do Grammatophylum speciosum, espécie asiática que inundou a mídia com sua beleza gigantesca e reveladora.
ACEO – Uma pergunta final à excelente fotógrafa: como fotografar orquídeas, para se obter o melhor resultado?
LM – Não me considero expert em fotografar, mas, com uma boa câmera e tempo nublado, os resultados são bons e, muitas vezes, excepcionais. Minhas fotos são fruto de uma aprendizagem típica de amador, ao longo de anos de tentativas bem ou mal sucedidas.
Parabéns pela entrevista, muito esclarecedora. Parabéns para Lou C. Menezes!