No alto, um cantinho do sítio do Eduardo e a C. lueddemanniana var. alba. Embaixo, Marco Antônio polinizando a flor e a pedra recoberta de líquens… e orquídeas.
O convite do Eduardo era para irmos a seu sítio, na Serra da Aratanha, onde, segundo telefonema do caseiro, uma Cattleya lueddemanniana alba havia florado. Eduardo Bezerra, que acaba de ingressar nos quadros da Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO), queria polinizar aquela flor, caso um inseto ou beija-flor já não houvesse feito o trabalho.
A 650 metros do nível do mar, o sítio fica em local de difícil acesso, aonde somente se chega em veículo com tração nas quatro rodas. Bendita dificuldade! Só assim, a tão curta distância da metrópole de 2,5 milhões de habitantes, se pode encontrar um paraíso formado por quilômetros de mata preservada, onde flora e fauna se resguardam das agressões tão comuns aos ambientes naturais em nosso País.
A poderosa camionete do Eduardo venceu tranquilamente as íngremes ladeiras. Com ele e seu motorista, Isaias, seguimos eu e Marco Aurélio Duarte, engenheiro agrônomo, paisagista e orquidófilo, um dos mais entusiasmados membros da ACEO. Sua presença foi fundamental na hora de cumprirmos outra missão – identificar algumas espécies nativas do Ceará que ainda estavam sem etiquetas.
O sítio surpreende pela beleza. A somente 50 quilômetros de Fortaleza, de lá é possível, nos dias mais claros, avistar-se o porto do Pecém e o mar. A vegetação é a de Mata Atlântica, característica das serras úmidas cearenses. Em praticamente todas as árvores se podem ver bromélias, samambaias e orquídeas, que enfeitam o cenário embaladas pelo canto dos sabiás, e acariciadas pela névoa de todas as manhãs friorentas. Em uma única pedra, a curta distância da acolhedora casa de madeira, encontramos quatro touceiras, ali colocadas pela mão do Criador: dois Epidendrum (rigidum e ramosum), uma Prosthechea fragrans e uma Scaphyglottis sp.
Todos os prazerosos encargos da “expedição” à Aratanha foram cumpridos: a labiata foi polinizada e mais uma dúzia de espécies da coleção do Eduardo foram identificadas. Outras touceiras foram transplantadas, com a ajuda de Pedro, o caseiro, que já se revela perfeitamente familiarizado com as lides orquidófilas. Antes da partida, boa notícia aguardava Eduardo – no galho de uma árvore que se debruça sobre o pequeno lago coberto de ninféias, Marco Aurélio encontrou, além de várias touceiras de Epidendrum latilabre, uma discreta Polystachia concreta, cuja presença, em seu paraíso serrano, nosso anfitrião ignorava. (Italo Gurgel – Jornalista e Presidente da ACEO)