Orquidófilos choram a perda de dois mestres

A orquidofilia nordestina sofre perdas irreparáveis. No último dia 8 de setembro, faleceu em João Pessoa, aos 91 anos de idade, o orquidófilo paraibano Américo de Arruda Câmara. Incentivador do cultivo de orquídeas em seu Estado, participante ativo das exposições regionais, Américo era conhecido como “O Poeta das Orquídeas”.

Exatamente um mês depois, a 8 de outubro, faleceu em Camaragibe, pertinho do Recife, o Prof. Augusto Burle Gomes Ferreira, um dos fundadores da SOPE (Sociedade Orquidófila de Pernambuco), hoje ASSOPE. Pernambuco perde, assim, um dos seus orquidófilos mais ilustres, um conhecedor profundo das orquídeas, em especial da Cattleya granulosa. Gomes Ferreira, que atuou como professor de Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco, foi o idealizador de um substrato alternativo ao xaxim – o coxim – fabricado com fibra de coco e amplamente comercializado no país.

Orquídeas de março: flores no shopping

Flores no Shopping
No Shopping Del Paseo, orquídeas de mais de 30 espécies diferentes.

A Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO) realizou, entre os dias 8 e 10 de março, sua primeira exposição de 2007, coincidindo a abertura com o Dia Internacional da Mulher. A mostra, batizada Orquídeas de Março, teve como cenário o Shopping Del Paseo, em Fortaleza, e reuniu cerca de 80 vasos com espécies nacionais e estrangeiras. A direção do Shopping, através de sua Assessoria de Marketing, ofereceu todas as condições para que o evento acontecesse da melhor forma possível. Ao final, discutiu-se a possibilidade de que a mostra entre, em definitivo, para o calendário de promoções anuais do Del Paseo.

Nessa primeira edição do Orquídeas de Março, foram expostas flores de mais de 30 espécies diferentes. A profusão de cores, formas e perfumes encantou os visitantes, que continuamente fotografavam as plantas e solicitavam informações sobre seu cultivo, sendo atendidos por um grupo de associados que se revezaram, dia e noite, no local. Para o sucesso da mostra concorreu, decisivamente, o espírito participativo dos sócios, que não mediram esforços para abrilhantar o evento. Encorajada por esse êxito, a Diretoria da ACEO já programa novas exposições para um futuro próximo.

A opção pelos defensivos alternativos

Muitos orquidófilos estão revendo seus métodos para combater pragas e doenças. A idéia é utilizar produtos naturais, em substituição aos defensivos químicos, cujos efeitos são comprovadamente danosos.

Sobre esses produtos, alerta o Dr. Darly Machado, em Orquídeas: Pragas e doenças:

“Muitos componentes químicos de inseticidas, fungicidas e bactericidas podem provocar doenças no homem, a curto ou longo prazo, como intoxicações perigosas ou alterações irreversíveis no organismo. Nas orquídeas, a destruição de microorganismos necessários para as transformações químicas dos substratos – nutrição das plantas – ou o desaparecimento de insetos ou pássaros polinizadores das flores reduzem ou impedem a continuidade do ciclo evolutivo normal de nossas plantas”.

Uma receita de defensivo caseiro vem sendo usada, com sucesso, por nossa companheira Miriam Feijó, em especial no combate às cochonilhas. É bastante simples: são 100g de pimenta do reino colocados em infusão em meio litro de álcool, mais uma cabeça de alho “despetalada”, posta em outro meio litro. Deixa-se passar um mínimo de 10 dias. Na hora de usar, coloca-se uma colher de sopa de cada uma das duas infusões em um litro de água, ao qual se mistura um pouco de óleo, para ajudar a fixar o produto nas plantas. Está pronto. É só pulverizar… E adeus cochonilhas!

Preservando a memória da orquidofilia no Ceará

O Boletim ACEO , publicação mensal da Associação Cearense de Orquidófilos, se propõe ser um guardião da memória do movimento orquidófilo no Ceará. Nele se procura resgatar informações de todo tipo que, isoladamente, constituem pedaços de uma história de 30 anos, que precisa ser preservada, até mesmo como estímulo às novas gerações de orquidófilos cearenses.

Em seu primeiro número, datado de 21/04/2007, foram transcritas pequenas notas inseridas no Boletim da então chamada “Sociedade Cearense de Orquidófilos”, nos anos pioneiros desse movimento. Além de um editorial, assinado pelo Presidente da entidade, o Boletim publicava informações curtas e informes técnico-científicos de autoria dos associados.

Segue-se uma seleção daquelas pequenas notas, que, reunidas, constituem uma página da história da orquidofilia em nosso Estado:

Volume I, Setembro-Outubro de 1978

Foi sucesso absoluto o jantar comemorativo do 1º aniversário da nossa Sociedade, realizado no restaurante do Náutico Atlético Cearense. Na ocasião foram sorteados, entre os presentes, 26 exemplares de orquídeas variadas.

Volume IV, Outubro-Dezembro de 1984

A V Exposição de Orquídeas do Ceará, ocorrida de 13 a 15 deste mês de dezembro, embora modesta, foi muito bem organizada graças aos esforços da Comissão Organizadora, composta pelos companheiros Carlos Carvalho, Antero Ferreira (Tutuca), Ana Celsa, Waldir Leite e Francisco de Oliveira. A exposição foi bastante visitada e muitos nos solicitaram informações quanto ao cultivo das orquídeas. […] Participaram do evento 13 expositores, apresentando um total de 95 plantas, 62 das quais C. labiata autumnalis, dentre estas algumas albas.

Parece que a nossa sede provisória ficou sacramentada mesmo na residência do presidente Gerardo Carvalho, haja visto que até um aconchegante quiosque de carnaúba foi construído próximo a seu orquidário. Todos estão encantados com a idéia.

Volume V, Janeiro-Março de 1985

O período chuvoso excepcional deste ano, com precipitações muito acima do normal, prejudicou diversas plantas de alguns orquidófilos, sobretudo com o ataque da podridão negra.

Em março, tivemos a honrosa visita da Drª. Lou C. Menezes (engenheira florestal do IBDF de Brasília) com a qual mantivemos um prolongado e proveitoso bate-papo sobre o seu trabalho de descrição das diversas variedades de C. labiata Lindl. a ser publicado com a ajuda de uma entidade científica norte-americana. Pelo exposto, teremos em breve um bom trabalho sobre essa espécie, cujas variedades de destaque, quase todas, estão bem distantes de nós.

Volume V, Julho-Setembro de 1985

Em 26.10.85, a Sociedade Cearense de Orquidófilos elegeu e deu posse a sua nova diretoria, composta dos seguintes membros:

DIRETORES
Presidente: José Pompeu de Souza Brasil; Vice-Presidente: Antero Ferreira Bezerra; Secretário Geral: Ana Celsa Alves Albuquerque; 1º Secretário: Gerardo Carvalho; 1º Tesoureiro: Luciano Ferreira Nunes; 2º Tesoureiro: Menandro Martins Filho.

CONSELHO FISCAL
Efetivos: Francisco Luiz de Oliveira, Sérgio Viana de Souza Marinho, Terezinha Pereira de Jesus; Suplentes: Hugo de Mattos Brito, Cleando Cortez Gomes.

COMISSÕES PERMANENTES
Técnica: Luiz Wilson Lima Verde; Promoção: Waldir Lima Leite; Divulgação: Carlos Baltasar Peicher de Carvalho.

Volume VI, Janeiro-Março de 1985

Um dos temas discutidos em nossa primeira reunião do ano foi o regulamento adotado para avaliação das plantas em nossas exposições internas. Diversas sugestões foram apresentadas e um grupo de trabalho, coordenado pelo colega Lima Verde, ficou encarregado de analisar todas as idéias para uma regulamentação mais abrangente para ser oportunamente adotada.

Uruburetama e as orquídeas

Orquídea na serra de Uruburetama
Orquídea na serra de Uruburetama

A serra de Uruburetama constitui o segundo maior maciço residual cristalino montanhoso do Ceará. Situada na porção setentrional do Ceará, tem cerca de 1000 km² de área e engloba partes dos municípios de Uruburetama, Irauçuba, Itapajé, Itapipoca e Umirim. A parte úmida e subúmida compreendem o platô da serra e as encostas norte-oriental que estão voltados para o litoral. Esta vertente recebe os ventos carregados de umidade provenientes do oceano, os quais, ao esbarrem nas suas superfícies de altitudes mais elevadas, deixam cair as chuvas do período e as neblinas ocasionais na época da estiagem. A média pluviométrica local está na faixa de 1200 mm/ano, concentrada nos meses de março-abril-maio. As altitudes médias nas áreas úmidas estão em torno de 750 m.

Na vertente voltada para o litoral, acima dos 600-700 m de altitude, predomina, principalmente, a vegetação úmida (floresta ombrófila montana) e, abaixo, a mata seca (floresta estacional semidecidual submontana), remanescentes disjuntos de Mata Atlântica. Abaixo de 400-300 m de altitude acostam-se a vegetação de caatinga arbórea ou outras tipificações vegetacionais características das áreas pré-litorâneas que se estendem em direção à faixa praiana. Na outra vertente, em áreas voltadas para o sertão, onde a umidade é mais reduzida, os limites da mata úmida referem-se às estreitas faixas de maiores altitudes, prevalecendo, logo abaixo, a mata seca que já se encontra com a caatinga arbórea nas faixas altimétricas em torno de 600-500 m.

Como se pode observar, esses condicionantes geoclimáticos proporcionaram, a barlavento, o estabelecimento de ambientes favoráveis ao desenvolvimento de uma flórula diversificada, inclusive epifítica, bastante significativa, e onde se destacam, entre vários grupos botânicos, o das Orchidaceae.

Atualmente essas áreas acham-se fortemente descaracterizadas pelos desmatamentos para fins agropecuários e extração de madeiras. A bananicultura tem sido a atividade que mais contribuiu para pôr abaixo quase toda a vegetação florestal, outrora exuberante, deixando apenas resquícios fragmentários nos topos de algumas elevações e, em raras localizações de mais fácil acesso.

A falta de manejo adequado para um uso sustentável desses ambientes vem tornando esse maciço altamente vulnerável à perda de parte de seu patrimônio paisagístico, cujos componentes abióticos e bióticos de seus hábitats estão consideravelmente degradados e, em grande parte, talvez até irreversivelmente.

O ato de se avaliar o que restou dessa paisagem necessita de estudos iniciais, principalmente de ordem pedológica, botânica e zoológica, para que se possam particularizar ações voltadas para a sua recuperação. Deve-se pensar, desde já, sobre a possibilidade de que os fragmentos vegetais restantes, dada a situação de disjunção em que se encontram, poderão estar afetando as interações gênicas entre as populações das diversas espécies, em conseqüência da falta de fluxo gênico entre seus respectivos componentes.

Não haverá resultados positivos se simplesmente forem tomadas medidas burocráticas para a preservação dessas áreas. Os efeitos do antropismo secular local já foram tão marcantes que qualquer planejamento recuperativo deverá ter como base a implantação de corredores ecológicos estruturados em função da recuperação espontânea e do reflorestamento com espécies nativas dessas áreas degradadas. Nenhuma dessas medidas terá êxito se não forem previamente desenvolvidas pesquisas botânicas relacionadas, principalmente, a levantamentos florísticos e fitossociológicos, com os quais se terá em conta o conhecimento da riqueza e da abundância da flora nos respectivos conjuntos vegetacionais. Paralelamente, complementam-se esses estudos com os levantamentos faunísticos e pedológicos.

A recuperação e a integração desses fragmentos vegetais para a serra de Uruburetama, embora não possa ser considerado um ato a ser desempenhado exclusivamente em prol das orquídeas aí existentes, pois não se pode desprezar as outras espécies (vegetais e animais), terá um significado bem particular para os estudos botânicos relacionados às Orchidaceae e para a orquidofilia cearense. Neste sentido estará garantida a sobrevivência de uma espécie dessa família botânica, a Cattleya labiata Lindl., considerada a “Rainha do Nordeste” pelos orquidófilos, que vem tendo, desde o século XIX, uma participação muito significativa no setor horticultural mundial, dada a sua inclusão como planta ornamental em si, e, indiretamente, como participante em milhares de cruzamentos genéticos que trouxeram a esse setor uma infinidade de híbridos de alta qualidade e extensivamente cultivados em todo o mundo. Da serra de Uruburetama foram registrados diversos tipos horticulturais de Cattleya labiata, inclusive um homenegeando o ex-presidente da República, José Sarney. Essa espécie acha-se restrita a algumas serras úmidas cearenses, distribuindo-se, contudo, do norte do Rio de Janeiro ao Ceará.

No território cearense já foi bastante perseguida, desde os anos 40, no que se refere ao sistema predatório de coletada, chegando mesmo a ter parte de suas populações dizimadas em locais das serras de Maranguape e de Uruburetama. Os poucos indivíduos que restaram, atualmente acham-se “acuados” nesses restritos fragmentos serranos, ainda submetidos, ocasionalmente, às investidas de coletores para fins comerciais.

Dentro da programação de recuperação dessas áreas, também se deve propor a reintrodução dessa espécie e de outras que venham a ser consideradas em vias de extinção, à semelhança do que já vem acontecendo em Pernambuco, em áreas de Mata Atlântica, onde, através de convênio entre a UFPE e grupos de orquidófilos, espécies orquidáceas estão sendo usadas no repovoamento desses hábitats, inclusive a C. labiata.

(Luiz Wilson Lima Verde é engenheiro agrônomo e Diretor Técnico-Científico da ACEO)

Aspectos da orquidofilia cearense

O território cearense apresenta, de maneira simplificada, três feições fisiográficas distintas: o litoral, o sertão e as serras.

Em todas essas compartimentações topográficas ocorrem orquidáceas, contudo, na vegetação semi-árida da caatinga (sertão) a riqueza e abundância dessas espécies são baixas em comparação com as das serras úmidas locais. A incidência de espécies no complexo vegetacional do litoral (matas de tabuleiro, cerrados, matas a retaguarda das dunas e manguezais) estaria estatisticamente num meio termo entre as duas outras áreas.

Algumas serras úmidas cearenses, como Baturité, Maranguape e Uruburetama, caracterizam-se, basicamente, pelo seu posicionamento nas proximidades do entorno da orla litorânea; por receber, de imediato, os ventos carregados de umidade vindos do oceano; pelas altitudes que permitem uma dotação pluviométrica mais intensa e regular ao longo do ano; pelo conseqüente clima ameno aí estabelecido; e pela ocorrência de uma vegetação caracterizada, fisionômica e floristicamente, como encraves de Mata Atlântica isolados dentro do Bioma Caatinga.

Esses ambientes, principalmente acima dos 600m de altitude, são propícios ao desenvolvimento de uma flórula diversificada, inclusive epifítica, onde se destacam, entre vários grupos botânicos, o das Orquidáceas. Neles, acreditamos que ocorra mais de 90% da orquidoflora cearense, estimada hoje em cerca de mais ou menos uma centena de espécies, embora registros oficiais dêem conta de apenas 54 espécies pertencentes a 28 táxons genéricos, conforme expressam os trabalhos de Cogniaux (1898), Pabst & Dungs (1975, 1977) e Gomes-Ferreira (1990).

Vale salientarmos que essas serras encontram-se seriamente ameaçadas, em conseqüência da degradação secular dos seus hábitats, atualmente fragmentados e ainda submetidos continuamente à dilapidação da flora e da fauna locais. A preservação desses ambientes necessita, complementarmente, de pesquisas e cuidados preservacionistas, não somente pela sua expressiva biodiversidade, mas também pela carência de informações que ainda demanda sobre a sua riqueza e utilização racional. Nesse contexto devemos levar em conta, particularmente, a possibilidade de constatarmos a existência de espécies ainda desconhecidas de orquídeas ou de registrarmos novas ocorrências de espécies já conhecidas e, até mesmo, de espécies com conotações de endemismos para essas áreas montanhosas.

Não somente pelas orquídeas, mas por toda a biota desses ambientes, aprofundar os conhecimentos bio-ecológicos locais constitui um ato de reverência à responsabilidade do científico e do social, necessários à preservação, também, dos direitos que merecem desfrutar as futuras gerações locais e itinerantes.

Esse patrimônio, portanto, não pode e não deve pertencer a grupos individuais nem a indivíduos isolados que possam se auto-eleger signatários de determinadas parcelas de seu conteúdo biológico, como o grupo botânico das Orchidaceae. Diante desta configuração de responsabilidades cabe aos orquidólogos estudá-las e, através dos resultados conseguidos, mensurar e expressar sua riqueza e abundância, prevendo e estabelecendo estatísticas que conscientizem a sociedade da real situação ecológica de suas populações. Aos orquidófilos cabe ajudar o meio científico no que for possível e, também, compreender e descobrir que a fartura dessas espécies nos seus hábitats é coisa do passado, e o que restou, que é muito pouco, constitui um bem precioso que devemos preservar com afinco e entusiasmo. Neste sentido, não podemos mais continuar procedendo com as coletas irracionais nos raros fragmentos que restaram de nossas matas, nem tão pouco, estimulando a coleta predatória realizadas pelos mateiros para “engordar” as nossas coleções.

Como fato palpável, devemos lembrar o que a orquidofilia cearense presenciou no início dos anos 90, quando do crucial extermínio de populações inteira da nossa Cattleya labiata em muitos locais de algumas serras, como foi o caso de Maranguape e Uruburetama (sem mais comentários!). Neste período foi registrada uma grande pressão de coleta dessa espécie, tanto para cultivo na região metropolitana de Fortaleza, quanto em outros estados brasileiros. Aqui na região metropolitana, em algumas ocasiões, foi constatado o apodrecimento de dezenas de indivíduos dessa espécie, conseqüência de coletas irracionais e em grande quantidade, sem os devidos recursos de tempo hábil para mantê-las saudáveis e cuidadosamente bem cultivadas. É bom recordarmos que procedimentos semelhantes já haviam ocorrido nos anos 40 e 50, quando milhares de exemplares dessa espécie saíram do Ceará, por via portuária, para o Rio de Janeiro e São Paulo e, possivelmente, para o exterior. Nessas circunstâncias, quando o navio atrasava, muitas vezes toda a carga apodrecia em quintais de casas da nossa capital.

(Luiz Wilson Lima Verde é engenheiro agrônomo e atual Diretor Técnico-Científico da ACEO)

Os orquidófilos e o meio ambiente

O que uma associação de cultivadores de orquídeas tem a ver com o meio ambiente?

Tudo.

Os orquidófilos não são apenas aquelas pessoas apaixonadas pelas orquidaceae. Eles não se fecham em seu mundinho de laelias e cattleyas, dendrobiuns e ondiciuns, buscando a flor extraordinária, de armação perfeita, tonalidade gloriosa e perfume celestial. Podem até cometer exageros nos cuidados com as plantas e no tempo que a elas dedicam. Mas também enxergam além do orquidário e procuram acompanhar muito de perto o que acontece com a natureza.

Essa simpática comunidade está atenta, por exemplo, aos ambientes naturais onde florescem as orquídeas. Preocupa-se sobremaneira com a devastação de ecossistemas que são o habitat de espécies raras — algumas, talvez, sequer catalogadas e que estão desaparecendo diante da ocupação irracional de áreas que precisavam ser resguardadas como patrimônio intocável.

De fato, as fronteiras da irresponsabilidade têm avançado céleres sobre nossas florestas, ecossistemas costeiros, matas ciliares… A hiléia amazônica recua para dar lugar à pecuária, o cerrado perde sua cobertura vegetal, a exploração imobiliária desfigura a faixa litorânea. E cada vez que os tratores se põem em marcha, atropelam, dentre outras criaturas de Deus, as orquídeas. Sim, porque o Brasil é um dos países que apresentam o maior conjunto de espécies de orquídeas, com cerca de 3.500 espalhadas por todas as regiões. E elas podem surgir em qualquer parte, em qualquer latitude ou altitude, seja qual for a temperatura, o nível de umidade…

No Nordeste, a esta altura, já se considera comprometida a sobrevivência de algumas das mais belas orquidaceae, nos ambientes que lhes dão abrigo desde que o mundo é mundo. É o caso da Cattleya labiata no Ceará. A serra de Uruburetama, berço de belíssimas flores rubras, está sendo desmatada para dar lugar ao plantio de bananeiras. Árvores centenárias são abatidas e incineradas com toda a sua preciosa cobertura de epífitas. Crime que até agora tem permanecido impune. Entre o Rio Grande do Norte e Alagoas, a vítima da vez é a Cattleya granulosa, elegante moradora das áreas costeiras, que o “boom” imobiliário vem erradicando com despudorada avidez.

Nas associações orquidófilas, fatos como esses são discutidos. Geram-se denúncias. Procura-se conscientizar as pessoas quanto à insensatez que está sendo perpetrada. Por isto, é sempre alentador quando surge um novo grupo de “orquimaníacos”, porque já se sabe que funcionará como caixa de ressonância de idéias novas, como propagadora de uma nova visão relacionada às coisas da natureza.

Assim, é prazeroso registrar a reabertura da Sociedade Cearense de Orquidófilos (ACEO), que retoma um trabalho iniciado em 1977 e que resultou, em seus primeiros anos, na realização de inúmeras exposições, simpósios e publicação de estudos técnicos. A entidade vem atraindo antigos e novos associados, que se reúnem mensalmente, em torno não apenas de belíssimos vasos floridos, mas também de uma pauta voltada para questões ambientais.

Foram retomadas as publicações, palestras, seminários, congraçamentos e exposições. Estas, em locais de grande movimentação do público, têm o propósito de atrair mais e mais adeptos para a orquidofilia, uma atividade apaixonante, que, no mundo inteiro, envolve milhões de pessoas de todas as idades, profissões e níveis sociais, irmanadas pela dedicação às orquídeas e por um desmedido amor à natureza.

(Italo Gurgel é jornalista e presidente da Associação Cearense de Orquidófilos)