As entrevistas da ACEO 05: Adarilda Benelli e as orquídeas – conhecer para preservar

Bióloga e pesquisadora do herbário da Universidade Federal de Mato Grosso, Adarilda Petini Benelli foi a entrevistada do Boletim ACEO nº 7, de 20/10/07. Ela conversou com Vera Coelho, tesoureira da ACEO, e falou da emoção de descobrir uma nova espécie de orquídea.

ACEO – O que a Biologia representa em sua vida?

Adarilda Benelli – A Biologia é uma ferramenta fundamental para compreender as formas de vida que existem sobre a Terra e com elas conviver em harmonia. É impossível preservar o que não se conhece. A Biologia, através das diversas sub-áreas em que se divide, propicia-nos conhecer as razões do que acontece conosco, desde as mais simples interações com os insetos e plantas até os mais complexos processos do nosso organismo, essa maravilhosa máquina de vida.

ACEO – Como têm sido suas pesquisas de campo em relação às orquídeas?

A.B. – Estamos trabalhando com afinco, apesar das dificuldades financeiras, para conhecer as espécies de Orchidaceae ocorrentes no estado de Mato Grosso, qual a sua distribuição e, principalmente, determinar uma lista de espécies amea-çadas. Até o momento, conseguimos construir uma listagem com 325 espécies referidas para o Estado e estamos trabalhando na sua confirmação e na verificação da situação atual dessas espécies em Mato Grosso. Um dos projetos em andamento é a publicação da primeira fase do trabalho, onde apresentamos essa lista, discutindo sua situação. A grande dificuldade do pesquisador no Brasil, hoje, é a falta de investimento na área. Não há recurso para pesquisas que não estejam diretamente ligadas aos grandes projetos das instituições de Ensino Superior. Mas tem sido compensador. Ano passado, realizamos a revisão bibliográfica do gênero Catasetum L.C. Rich no Mato Grosso, numa parceria com a bióloga Evanil Ramos Fernandes, a Dra Miramy Macedo e eu (podem conferir no site www.orchidstudium.com). Este ano, estamos finalizando a revisão do gênero Cyrtopodium R. Br, um trabalho conjunto com o biólogo Rodrigo Pérez.

ACEO – Há pouco tempo, você descobriu uma nova espécie de orquídea. Fale-nos sobre ela.

A.B. – No último ano, eu e Américo Docha Neto publicamos uma nova espécie de orquídea, localizada na área de formação da Pequena Central Hidrelétrica Paranatinga II, no município de Campinápolis, Mato Grosso. Encontrado à margem esquerda do rio Culuene, já no entorno do Parque Nacional do Xingu, o Alatiglossum culuenense Docha Neto & Benelli, publicado no Orchidstudium 5:55-77 (2006), é uma espécie que já consideramos em sério risco, pois só coletamos poucos exemplares e a área já foi desmatada para formação do reservatório. Infelizmente, é o progresso atropelando a vida nativa de nossas matas! Para os que se interessarem em ler a respeito podem acessar o link: www.orchidstudium.com/os/revista.html Em 2007, temos a alegria de preparar a publicação de mais uma espécie nova, dessa vez, em parceria com a bióloga Apolônia Grade. Já encaminhamos para publicação e aguardamos ansiosas.

ACEO – Qual a emoção de descobrir uma nova espécie?

A.B – O engraçado é que não se sente nada no momento da coleta do exemplar, principalmente se ele não estiver florido. Quando finalizamos a campanha de abril e listei as plantas resgatadas para fazer o relatório de atividades, incluí na lista a planta Oncidium macropetalum. Um exemplar apenas. Pequena parte desse exemplar foi levada para o orquidário do Jardim de Biodiversidade do Herbário UFMT e a maior parte ficou num viveiro provisório. Como eu sabia que o Américo estava realizando a revisão das Oncidiinae do Brasil, enviei-lhe um pedaço do exemplar que trouxe para o acervo do orquidário. E qual não foi minha surpresa quando a amostra que lhe mandei floriu, dois meses depois, e ele contatou-me falando da novidade! Eu, recém-graduada, fui convidada a descrever junto com meu grande amigo essa espécie nova. Que honra! E que presente de formatura! Para mim, a maior realização na descrição de uma nova espécie é saber que ela será conhecida e, por conseguinte, preservada. Ao passo que aquela que ainda não foi descrita pode desaparecer a qualquer momento, sem que a tenhamos conhecido.

Nota da Redação: Adarilda Benelli tem um trabalho pronto para ser publicado, aguardando avaliação, e dois projetos já concluídos: “Entre cores e flores do Cerrado Matogrossense” e “Orquídeas da Chapada dos Guimarães”.

5 comentários em “As entrevistas da ACEO 05: Adarilda Benelli e as orquídeas – conhecer para preservar”

  1. Se possivel, gostaria que informasem, se ha cursos em Curitiba, para aprender a cultivar,e fazer mudas de Orquideas. Certa de sua atenção agradeço. Iracema

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