Lou Menezes (Bióloga, analista ambiental, Chefe do Orquidário Nacional do IBAMA, Coordenadora do projeto Orquídeas do Brasil, do IBAMA-Brasília)
No mundo misterioso das florestas tropicais encontram-se as chamadas ilhas de dispersão das espécies, que na verdade são refúgios de plantas e animais que não se repetem ao longo de todo o território dominado por tais florestas. Esta ocorrência implica a necessidade e urgência do tombamento dos remanescentes florestais, única maneira de se preservarem amostras típicas dessas florestas. O desaparecimento de ecossistemas tem dizimado populações de orquídeas e levado à extinção de milhares de outras espécies vegetais.
De uma maneira geral, grande parte das florestas brasileiras encontra-se numa situação tão alarmante quanto desoladora. Muitas não só foram quase totalmente erradicadas, como as que ainda permanecem apresentam-se rarefeitas em face da retirada sistemática de madeiras do tipo nobre ou madeiras de lei, motivo pelo qual tais matas são denominadas de “catadas”.
Possuidor das maiores florestas tropicais da Terra, o Brasil não tem propriamente uma ciência, uma tecnologia, uma tradição florestal capaz de conciliar as necessidades de ordem social-econômica e demográfica do país com a imperiosa urgência que implica a preservação e conservação de nossos recursos naturais. Urge que uma política ambiental efetiva se desenvolva além da que existe, que parece tímida diante das necessidades do país em desenvolvimento para o Primeiro Mundo.
As derrubadas e queimadas que devastaram as matas nativas no Sul brasileiro alcançaram o Sudeste, o Centro-Oeste, o Nordeste e que hoje consomem a Floresta Amazônica, são responsáveis pela formação de grandes áreas áridas, um passo para a formação de grandes desertos. O bioma Cerrado sofre um processo de devastação ambiental aterrador e incontrolável. O crescimento da ocupação agrícola, notadamente voltada para os plantios de soja, cana-de-açúcar e milho, criação de gado em harmonia com a formação de grandes áreas de pastagem, culminando com os intensivos processos de urbanização descontrolada, além de gigantescas represas para a formação de usinas hidroelétricas, são responsáveis pela drástica redução não só do Cerrado mas também de outros biomas.
O cientista e ambientalista inglês James Lovelock, criador da hipótese de Gaia, com base nos estudos de Lynn Margulis, para explicar o comportamento sistêmico do planeta Terra, visto como um superorganismo, diz que “um organismo que afeta o ambiente de maneira negativa acabará por ser eliminado. O aquecimento global foi provocado pelo homem e, por isso, corremos o risco de extinção. Até 2100, é provável que 80% da humanidade desapareça.”
Apesar da criação de grandes áreas protegidas pelo Governo brasileiro, totalizando 75.455.784 hectares em todo o Brasil, sendo 5.415.360 hectares do bioma Cerrado, a preservação se faz em progressão aritmética, enquanto a depredação segue em progressão geométrica. Nosso grande desafio é equilibrar o desenvolvimento sustentado com a preservação ambiental. Assim mesmo, para alguns cientistas, já seria tarde demais para que o desenvolvimento sustentado fosse aplicado, o que deveria ter sido feito 200 anos atrás, quando a população da Terra era de 1 bilhão de pessoas.
Nesse mesmo diapasão, dizem que a perda da biodiversidade é apenas um sintoma de pouca biodiversidade. No que diz respeito às ameaças e recuperações dos paraísos das orquídeas, o trabalho a ser feito para preservação desses maravilhosos organismos depende quase que exclusivamente do empenho e determinação de seus aficionados, que para tal deveriam seguir os mandamentos baseados nas seguintes premissas:
- Abolir a prática predatória da coleta, por meio da fiscalização dos habitats, levando-se em consideração que cada um cumpra com seu dever, e que a omissão implica a convivência com o processo depredatório.
- Demanda zero na compra de orquídeas nativas oferecidas pelos mateiros e comerciantes ilegais de orquídeas.
- Introdução de espécies nos habitats depredados e de onde elas foram originalmente retiradas e de onde nunca deveriam ter saído.
- Implantação de programas de educação ambiental nas entidades orquidófilas.
- Manejo seletivo nas populações visando à melhoria genética das espécies.
- No que diz respeito às cattleyas consideradas joias do Nordeste brasileiro, a obrigatoriedade da criação de áreas de conservação ambiental para habitats de Cattleya granulosa, Cattleya labiata e Cattleya leopoldii. No caso específico da granulosa, o extermínio que a espécie está sofrendo, com a destruição de seus habitats litorâneos no Estado do Rio Grande do Norte, com a implantação intensiva e desordenada de condomínios, um paliativo seria também deixar ilhas de vegetação nativa de Cattleya granulosa e orquídeas associadas nas áreas de condomínios, funcionando como jardins naturais.
Pena que muitas associações orquidófilas ainda não se aperceberam da necessidade da educação ambiental e da insensatez da coleta de orquídeas no hábitat natural, sendo que esse ato representa crime ambiental e significa condenar as orquídeas coletadas à morte, pois a maioria não se adapta ao cultivo em orquidário.