Reproduzimos, a seguir, matéria publicada no portal da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat):
Texto: Nataniel Zanferrari
Foto: Coordecom/Unemat
Uma parceria entre taxonomistas da família Orchidaceae (a das orquídeas) do laboratório de Botânica do Campus de Tangará da Serra da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Instituto de Botânica de São Paulo e Universidade Federal do Paraná (UFPR) encontrou duas espécies de orquídeas com particularidades incomuns às demais já registradas para o Brasil.
Uma delas pertence ao gênero Dichaea Lindl. Esta espécie já foi confirmada como nova para a ciência e está sendo descrita. A outra se trata de uma espécie do gênero Tropidia Lindl., que foi de difícil identificação, pois não havia registro de sua ocorrência no Brasil. Sua identificação só foi possível após sequenciamento de algumas regiões de seu DNA. Esses estudos dão conta de que se trata da Tropidia polystachya (Sw.) Ames. Essa espécie já havia sido coletada nas Bahamas, nas Ilhas Cayman e em outros países da América Central; na Colômbia; no Equador, inclusive nas Ilhas Galápagos; na Flórida, Estados Unidos; no México; e na Venezuela; mas nunca no Brasil.
A intenção da equipe da professora Celice Alexandre Silva é que, assim que sejam finalizados estes estudos, os resultados sejam publicados em revistas científicas internacionais, com intuito de atingir grande parte da comunidade científica e chamar a atenção para a flora mato-grossense.
Botânica mato-grossense
O Estado de Mato Grosso vem demonstrando, através de estudos botânicos localizados, que a sua flora ainda esconde espécies pouco estudadas e até algumas nunca descritas na ciência. Por apresentar uma mistura de três biomas brasileiros (Cerrado, Pantanal e Amazônia), a flora mato-grossense torna-se uma importante ferramenta para os pesquisadores, mesmo com o Estado figurando entre os que mais desmatam no Brasil.
Do ponto de vista da taxonomia (área da ciência dedicada à identificação e classificação das espécies), o Mato Grosso permaneceu esquecido por muitos anos. A última expedição botânica importante aconteceu na década de 1940, durante a instalação das linhas telegráficas comandada pelo Marechal Cândido Rondon, época das coletas realizadas por Frederico Hoehne, quando muitas espécies novas foram descritas.
O interesse de alguns taxonomistas de retomar os estudos da flora mato-grossense vem fortalecendo o objetivo de ‘reativar’ a pesquisa e divulgação da flora de Mato Grosso, revisando as primeiras listas de espécies, materiais depositados em coleções científicas, descrevendo espécies novas e, ainda, ampliando a distribuição geográfica de diversas espécies existentes em outros estados e até outros países.
Desde 2012, a publicação de dois livros sobre as orquídeas de Mato Grosso – ‘Orquídeas nativas de Mato Grosso’, de Ana Kelly Koch e Celice Alexandre Silva, e ‘Orquídeas de Mato Grosso – Genus Catasetum L.C.Rich ex Kunth’, de Adarilda Petini-Benelli – chamou a atenção demonstrando o quanto esse Estado é rico em espécies de orquídeas e o quanto ainda precisa ser estudado.