Transcrevemos, a seguir, artigo do jornalista Italo Gurgel, Diretor de Comunicação da Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO), publicado no Vol. 28, Nº 3 da revista Orquidário, publicação trimestral da OrquidaRio Orquidófilos Associados, do Rio de Janeiro. Segue-se o texto:
“As mudanças climáticas, em escala global, são cada vez mais evidentes e trágicas. As temperaturas sobem, eleva-se o nível dos oceanos e o processo de desertificação avança – com imprescindível ajuda do homem, que segue desmatando, promovendo queimadas e investindo contra as matas ciliares e nascentes dos rios. Agora, o resultado dessa conjugação de malefícios bate à nossa porta e invade nosso cotidiano. O calor é sufocante, nas grandes cidades o ar se torna irrespirável e, de repente… faltou água nas torneiras. Em boa parte do País, a fonte secou.
No Ceará e no Nordeste, o relato das grandes secas está presente na história desde os tempos coloniais. Na literatura, cinema, teatro, música e artes plásticas, é tema recorrente. Mesmo assim, não se conhecem soluções redentoras. Nos longos períodos de estiagem, as represas secam inapelavelmente. E nem sempre adianta perfurar poços artesianos, pois, em boa parte do Sertão, a água, de tão salobra, é imprópria para o consumo. Assim, a única saída, para evitar o colapso total, é o racionamento.
Esse contexto de escassez é penoso para todos. Mas, quando se tem uma atividade que, normalmente, impõe consumo elevado de água – como o cultivo de orquídeas –, cabe admitir que a situação se torna dramática.
Há muito tempo, enfrento esse drama. Tenho dois pequenos orquidários – um na Região Metropolitana de Fortaleza, outro na cidade serrana de Pacoti, a 100 quilômetros da Capital. Em ambos, a escassez de água é velha conhecida, independentemente de as fontes serem diferentes: no primeiro, disponho de um poço profundo, cuja vazão se reduz drasticamente nos longos meses sem chuva; no segundo, conto com os serviços da companhia de água e esgoto (o que se traduz no fornecimento de água, por alguns minutos, a cada oito ou dez dias).
Na serra, como no litoral, a situação agrava-se porque os ventos fortes costumam soprar nos meses mais secos, justamente quando a temperatura sobe e as nuvens quase que desaparecem. As plantas, então, começam a desidratar mais rapidamente, exigindo regas mais abundantes e frequentes.
O que fazer? Viver uma situação emergencial significa aprender a administrar a escassez, ou seja, obter o máximo, empregando o mínimo. Não se pode desperdiçar aquilo que, de repente, se tornou precioso e raro. O “lado bom” da carência é que o estresse hídrico termina resultando em florações mais abundantes, no caso de algumas espécies. Convenhamos, porém, que a essa altura não são as flores o que mais nos interessa, e sim a sobrevivência das plantas.
Quando a vazão do poço diminui, quando a torneira somente jorra uma vez por semana, cuido de armazenar a água disponível. Procurando não desperdiçar uma gota sequer – prática, aliás, necessária em qualquer época ou circunstância – faço pequena reserva, suficiente para uso doméstico e rega das orquídeas.
Esse armazenamento, que em Pacoti é feito em duas caixas d’água de fibra de vidro (interligadas), irá garantir outro resultado benéfico. Como, nesse período, a má qualidade da água passa a exigir uma quantidade maior de cloro em seu tratamento, um repouso mais prolongado, nos depósitos, possibilitará certa aeração, reduzindo a clorificação. As plantas agradecem.
A estratégia mais efetiva há de ser posta em prática na hora de molhar as orquídeas. É o que se pode chamar de óbvio: se não existem soluções mágicas, a saída é espaçar as regas e reduzir o dispêndio d’água em cada sessão.
Nenhum desperdício é permitido. Nada de jatos abundantes, como nos velhos bons tempos de represas transbordantes. Com o fluxo da mangueira regulado em um mínimo, iremos ministrar doses contidas, numa rápida passagem pela fileira de vasos, apontando para o substrato. Se necessário, depois forneceremos um pouco mais a este ou aquele vaso onde o toque do dedo revelar que o substrato continua seco.
Nos dias de mais aguda escassez, podemos nos contentar com o borrifador e esquecer a mangueira. Aliás, em qualquer quadra do ano, não é preciso mais do que o borrifador para regar as orquídeas fixadas em placas ou estacas de madeira. Lançar um jato d’água sobre esses suportes é mero esbanjamento.
Por outro lado – e voltando às plantas acomodadas em vasos –, devemos ser um pouquinho mais generosos com aquelas cujo pseudobulbo está em crescimento. A falta d’água, nessa etapa, pode fazer com que o pseudobulbo não se desenvolva adequadamente, acarretando, depois, florações mais modestas, quando não, o abortamento das espatas.
Para obtermos o melhor proveito da irrigação parcimoniosa, vamos nos lembrar daquela recomendação de regarmos o orquidário pela manhã. Como a evapotranspiração das plantas será mais forte nas horas seguintes, é desejável que suas raízes encontrem reservas de umidade para repor a água que se perderá através das folhas.
Não nos esqueçamos, também, de que os vasos plásticos retêm a umidade por mais tempo. Portanto, na hora de regar, eles não precisam receber tanta água quanto os de argila. Outra estratégia recomendável é, na medida do possível, substituir o substrato que não retém umidade por aquele que se mantém úmido por mais tempo. Isto significa, por exemplo, menos brita e isopor, mais esfagno e casca de coco.
Uma vez que o vento em excesso apressa a desidratação das plantas, especialmente quando há baixa umidade do ar, cabe tomar providências para barrar um pouco a ventilação, adensando o telado nas paredes laterais. Um pouco mais de sombreamento também ajuda, levando-se em conta que, conforme já assinalei, a época de águas escassas é aquela em que o sol flagela com mais rigor as plantas, os animais… e o bicho homem. Menos sol, menos evapotranspiração.
Sombrear mais, ventilar menos… dependendo das circunstâncias, esta fórmula pode levar à proliferação de fungos. Felizmente, o perigo de que o inimigo se fortaleça será reduzido pelas próprias condições climáticas e pela redução das regas.
Cabe lembrar que a economia de água em outros itens da vida doméstica é absolutamente necessária e vem complementar o esforço de redução do consumo no orquidário. Coloquem-se em prática, então, aqueles aconselhamentos que os veículos de comunicação têm repetido à exaustão: na hora do banho, fechar a torneira ao ensaboar-se; coletar a água do banho para dar descarga no vaso sanitário; não deixar torneiras gotejando… Uma providência urgente é dar férias não remuneradas àquela maquininha que acelera o jato d’água, a lavadora de alta pressão, que eleva consideravelmente o consumo. O carro está empoeirado? Limpa-se com uma flanela molhada.
De resto, considero que o item principal de todo o receituário para sobreviver à era das vacas magras é usar o bom senso, é observar melhor as orquídeas, procurando apreender suas carências ou satisfação com a quantidade de água que estamos ministrando. Não podemos pecar pela falta, nem pelo excesso, uma postura que, na verdade, deve prevalecer o tempo inteiro em nossos orquidários. Chova ou faça sol.”
Olá, gostaria de saber qual é o consumo de água em um orquidário , acredito que isso dependerá da quantidade de plantas ….mas gostaria muito de ter uma estimativa!Grata!!